sábado, 26 de março de 2011

Aquele Estranho... Parte II

O meu dia foi preenchido com diversas reuniões. Estávamos prestes a recrutar um estagiário para o departamento de Marketing e o meu Director fez questão que eu acompanhasse todo o processo. Ao mesmo tempo as palavras escritas pelo Alexandre não me saíam da cabeça. Só pensava em falar com ele e dizer-lhe tudo aquilo que tinha vontade. Mas ao mesmo tempo um frio no estômago instalou-se. Como se não pudesse ser verdade.
Ao final do dia quando saí peguei no telefone e liguei-lhe.

 - Estou sim, Alexandre?

 - Olá! Pensei que não ias ligar. Não esperava uma reacção diferente. No fundo pensei que ias fazer o mesmo que eu te tinha feito. Estás bem?

 - Sim, estou bem. Foi um dia bem cansativo, mas correu bem. Podemos conversar um pouco?

 - Podemos sim. Mas eu ainda estou com um cliente. Posso ligar-te mais tarde?

 - Sim, tudo bem. Quando puderes. Fica bem então.

 - Olha, obrigado por teres uma atitude diferente. Um beijinho.

Desliguei à pressa porque tinha os joelhos a tremer. Não acreditava que uma reviravolta tão grande pudesse ocorrer. Simplesmente não concebia essa ideia. Eu que concebia tudo e mais alguma coisa, não conseguia acreditar.

Cheguei a casa, fui ao congelador e tirei uns bifes para o jantar. Quando me preparava para ir correr um pouco, o meu telefone tocou. Era ele. O meu estômago deu um nó. Respirei fundo e atendi.
 - Sim…
 - Espero que agora possamos falar. – Disse ele com vontade de ouvir o que eu tinha para dizer.
 - Sim, posso falar agora contigo. Primeiro quero dizer-te que não esperava que me escrevesses, mas isso tu sabes. Em segundo lugar não consigo entender porque me ignoraste durante todo o tempo em que arrisquei e te procurei. Não tens ideia do mal que isso me fez sentir. E por último não sei se posso aceitar o teu convite para o evento em Évora.
(Silêncio…)
 - Bem, Disseste tudo? Parece que disseste isso tudo sem respirar. Percebo que tenhas ficado melindrada comigo, mas o meu silêncio foi unicamente para te proteger. A minha vida já estava uma tremenda confusão e eu não queria, de forma alguma colocar-te no meio de tudo o que me estava a acontecer, percebes?
 - Eu percebo, mas não entendo. Pensei que mo podias ter explicado naquela altura. Interpretei o teu silêncio como desprezo. E isso não é bom. Não era algo que eu merecesse. Consegues também colocar-te na minha posição?
 - Claro que sim. Peço desculpa mais uma vez. Mas não podia. Acredita que não podia, o que não quer dizer que eu não quisesse. Existem diferenças entre o querer e o poder (e ouvi-o rir) …
 - Tudo bem, essa parte já percebi. O que não quer dizer que aceite ou que te desculpe, mas tudo bem. Já agora quero fazer-te uma pergunta. A quem é que andaste a perguntar coisas sobre mim?
 - Pois. Isso foi o pior. Fiquei a perceber que não te abres com muita gente. E atenção que não digo isto como uma critica. Acho que fazes muito bem e principalmente no local de trabalho. Quem me ajudou foi o teu irmão, sabias?
 - Como? (engoli em seco, a última pessoa que eu pensasse que estaria metido nisto – pensei alto)
 - Sim, foi ele. Disseram-me como podia ter acesso ao teu facebook e eu contactei com ele. Foi a melhor ideia que tive, desculpa outra vez. - E uma gargalhada escapou-lhe…
 - Tu ainda te ris? Tem muita piada, realmente muita piada. Faço ideia o que ele pensou e o que te disse a meu respeito…
 - Por acaso foi impecável. Obviamente que eu tive de lhe explicar tudo muito bem. Não foi fácil e tive de lhe prometer muita coisa, mas valeu a pena. Aliás, valeu nem que seja pelo facto de estarmos agora aqui a falar. Mas eu só quero saber uma coisa, queres ir comigo a Évora? Tenho muito gosto que me acompanhes. Muito gosto mesmo.
 - Mas porquê eu? E que evento é esse?
 - Tu, simplesmente porque sim. Não há mais motivo. Quero que vás comigo. É a inauguração da remodelação de um Hotel que a minha empresa andou a fazer. O dono fez questão de me oferecer um fim semana para lá ficar. E acho que podes ser minha companhia. Aliás, por achar que deves ser uma companhia fantástica é que te quero levar.
 - Vou pensar. Até quando tenho de te dar a resposta?
 - Agora. Tens de me dizer agora. E eu não aceito um não. Anda lá Catarina, já viste bem o tempo que estivemos sem falar? É a forma de colocarmos a conversa em dia. De te vingares de mim – atenção que estou a brincar – disse em tom de riso…
 - Tudo bem eu vou. Mas antes disso preciso de te ver. Queres ir tomar um café daqui a pouco?
 - Não acredito. Estás a repetir um convite? Sabes que eu sempre achei que tu eras uma pessoa implacável. De um orgulho obsceno. Que dificilmente vacilavas, mas começo a ver que não és muito assim.
 - Bem, estou a ver que não te posso dar muita confiança. Afinal não quero ir tomar café nenhum. – Disse eu a rir sozinha…
 - Ah Ah Ah. Agora não podes voltar atrás. Lamento. Encontramo-nos onde? Eu apanho-te em casa, só tens de me dizer onde é.
 - Nem pensar. Não quero que saibas onde vivo. No Fórum Almada. Está bom para ti? Pelas 21h20 devo lá estar. Encontramo-nos lá em cima ao pé da casa dos crepes.
 - Com certeza. Nem arrisco a dizer mais nada. Até logo. Beijo…
 - Até logo. E não te atrases.
...

1 comentário: